sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Majestade e Beleza

Por Diogo Filipe


Num bate-papo com meu amigo cabeção Paulo Jales (esses cabeções nordestinos se entendem né??) foi pedido que fizesse um texto sobre o encontro. Não sabia muito bem em que tema tocar, já que foram tantas coisas que apontaram para tantos aspectos da doutrina pan. Lembrei de uma conversa que tivemos na oca do redário onde dormíamos.
Depois de um reajuste configurativo energético fantástico no Recife, promovi um encontro pan com uns bons amigos no paraíso ecológico da cachoeira do urubu-rei próximo à cidade de Pedro II, que é a maior produtora de opala de excelente qualidade no mundo, no alto da serra da Ibiapaba, que divide o Piauí com o Ceará, terra dos cabeças-chatas. Pelo fato de ser um ponto muito esquecido na nossa república federativa (Paulo, ou Arturo? até perguntou se tal local existe mesmo) e não ter uma industrialização avançada, o Piauí preserva santuários de biomas ecológicos intactos de uma beleza rara (fora Suzanno! fique por São Paulo mesmo).
 Decididos a congregar forças em locais de poder formidáveis, como os antigos, subimos a serra. Um trackingzinho íngreme mais do que básico, um errinho de caminho aqui outro acolá, chegamos e descansamos.Ficamos deslumbrados com a giganteza da beleza do lugar, pois apesar de aqui no Piauí ter muitas belas cachoeiras, essa é top. Extasiados ainda quando a visão se deu a todos nós: um lindo urubu-rei com sua colossal envergadura e cores espetaculares num sobrevôo magnífico pela cachoeira. À hora não tive o insight de estar tendo um significativo presságio (bom augúrio) e a energia foi tão grande que alguns não se contiveram e vibraram com urros de alegria. O esplendor da majestade é fulgurante na alma. Signo de perfectibilidade. Recobrado do êxtase da formidável visão, lembrei que a visão do condor andino (vultur gryphus), um parente muito próximo do urubu-rei, (sarcoramphus papa) é um dos grandes pontos da ayahuasqueira por ser uma visão de essência aérea, próxima à essência do espírito. Essencialismo proposto por Rêgís, mon amí.(Kd ele nesse espaço galera)?
Depois, wikpediando, verifiquei que o urubu-rei é uma ave rara, arredia mesmo ao contato com humanos, e que possui grande reverência por parte de muitas das culturas fundamentais de nossa terra brasilis. Achei que já tinha visto um no zoo daqui, mas vi que nunca. Não ali encarcerado, alijado da essência fundamental de sua existência: o ar. No esplendor de sua beleza, alado de uma envergadura soberana, senti a propriedade da majestade fulgurar a alma dos presentes. Depois, vi as propriedades dos elementos que possuem a qualidade de rei se apresentarem a mim mais uma vez. Digo mais uma vez porque tempos atrás em uma igreja do santo daime, durante um trabalho, no momento que o hinário de Irineu Serra, o mais forte e importante daquela doutrina acredito, cantou a entrada no salão dourado, numa miração linda adentrei suas portas e vi o anfitrião: um explendoroso rei sentado em um trono dourado que exalava élegance, delicatese, nobreza e potência tão profundas que me emocionaram muito. Bem me lembro que Perfeição foi o sentido de minha última fala no grande encontro no Recife e gostaria de expor mais uns detalhes sobre o tema. O arquétipo do rei baliza o sentimento, em nós humanos, de reverência pelo kalós aghathos, a beleza e a bondade expressas em vários momentos da vasta e bela cultura grega. A Areté, termo que comumente significa virtuosidade, competência para o desempenho brilhante, belo e bom, marcou profundamente toda a riquíssima cultura helênica. Areté de Aquiles como guerriro, Arete da sapiência de Ulisses, ou Arete da beleza de helena a encantar seduzindo, Areté de Platão como grande meditador, de Aristóteles como pesquisador, Areté da letra de Píndaro ou da magnífica Safo, que tanto honrou a importância das mulheres de Atenas, deformadas, de certa forma, por Chico Buarque em sua bela canção. Essa propriedade era o mais fiel conceito de beleza que podiam expressar, pois esta –beleza- pertencente, em sua essência, à esfera das coisas indizíveis.Falava a Paulo Jales que o impacto do belo Kálos não se dá por juízo estético ( Kant, que Rêgís mon amí não gosta (rsrsrsrsrs) aponta essa discussão em sua crítica do juízo estético) mas por súbita inundação de comprazimento e gozo além-linguagem impactantes. Meu irmão, que é bom fotógrafo, perguntou se o que tínhamos visto de fato teria sido um urubu-rei, tamanha sua raridade, se não estaríamos enganados a confundi-lo por um gavião qualquer. Disse a ele que quem possui o signo da majestade não necessita de que haja conhecimento prévio de sua presença para ser reconhecido. Simplesmente se sabe que uma coisa de fato É.
Na antiga e autêntica reflexão dos filósofos pré-socráticos existia um conceito praticado que era aneu logou, que se referia a um espaço na consciência que se dava sem pensamentos, que não se efetivava através do diálogo comum que estabelecemos com nós mesmos ou seja, o que proprimante chamamos de indentidade (emme emuatós), processo fundador de toda a lógica ocidental. Tais reflexoes os levava à contemplação da estrutura do universo como ela realmente se dá (nous) antes de sua conversão em nossa cognição para o pensamento lógico-binário de nosso palavrório raciocinalista cotidiano. Aponto aqui a espantosa semelhança com alguns conceitos utilizados por bons senhores reis dessa terra que Carlitos El quase brujo teve o privilégio de conehcer (Pelé e Michael Jackson não vale, todos conhecem). Esses senhores o mostraram a possibilidade de se poder ver que toda a estrututa circundante é pura energia ( E=mc2 é mais um modo, muito elegante é verdade, de provar isso) e que é possível vê-la através de um processo chamado calar o dialogo interno. A autêntica visão almejada por quem bem medita, levando os desavisados dela à loucura iminente senão um processo bem feito e preparação persistente e acúmulo de poder pessoal.
Pois bem, vejo que a senda ayahuasqueira se abre quando, com muito esforço retomamos esse silêncio interior requerido para a contemplação. Através da visão clara inevitavelmente somos seduzidos, pois desejamos sempre isso, pela força da beleza que a perfeição possui, esta não mais aquele atributo conferido somente a Deus, mas a propriedade a ser sempre efetivada NO e PELO ser humano, para majestade da própria Natura naturans(Spinoza) , as alegrias de se participar de Deus, que não ESTÁ em todas as coisas, simplesmente  É  todas as coisas. E coisas passíveis de serem executadas, cuidadas e rearranjadas por ens perfectissimus , que são sublimes já pelo fato de existirem: Homens.

2 comentários:

  1. Pessoal, seguem os links das fotos do local descrito. Estão todos convidados a conhecê-lo.

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  2. http://www.facebook.com/photo.php?fbid=2279644879289&set=a.2113435124149.2133235.1493800189&type=1&theater

    http://www.facebook.com/photo.php?fbid=2279630638933&set=a.2113435124149.2133235.1493800189&type=1&theater

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